domingo, 7 de julho de 2013

Uma Vênus Contemporânea

Nu rosa com quadrado vermelho
de Fabricius Nery (jun/2013)

por Jardel Dias Cavalcanti

Detalhe da obra

A mais nova obra de Fabricius Nery nos coloca diante de uma Vênus ao espelho, acomodada entre cortes geométricos, sendo dominante o quadrado vermelho. A referência é a tradicional "Vênus ao espelho", do pintor espanhol Diego Velásquez.

Um belo corpo oferece-se em sua nudez diante do espelho. A transparência da seda da camiseta só nos pode estar dizendo que a nudez total impede a verdadeira nudez, já que para termos realmente prazer diante da nudez, ela deve ser, em parte, apenas sugerida.  Um pouco de mistério sempre despertou o desejo masculino pelas figuras femininas. Afinal, que mistério pode ser maior do que um seio, pernas, costas que apenas se insinuam, se anunciam, se sugerem, sem se revelarem ao todo?

Deitada de costas para o espectador,  vemos as belas formas do corpo delicadamente rosa, quase transparente, quase metafísico, da carne que se exibe relaxada no seu conforto de estar deitada e se admirando tranquilamente. No espelho podemos ver partes desse corpo que se auto-admira, e aquilo que de costas não se revelaria: o pelo pubiano da musa. É o cabelo  mais os pelos pubianos que retiram da figura a característica metafísica de sua palidez rosa. Funcionam, pela cor mais escura em contraposição ao rosa do resto da figura, como um apelo à materialidade.

No gesto de mão que retira o cabelo da nuca, oferece-se, de forma angulosa, o pescoço que se desvela às carícias de nossos olhos. É a forma de se anunciar o desejo de entrega, ampliando a exposição da nudez aos olhos do espectador.

As nádegas, coxas, braços e parte das costas desnudos são ofertas abertas ao desejo. Nossos olhos passam a possuir dedos e tocar cada parte desse corpo, passeando por curvas, linhas, cores suaves e tecido etéreo. Nos aconchegamos a esse corpo, quase sentindo o perfume dos cabelos e da pele, e, porque não, quase sentimos o suave odor do seu sexo refletido no espelho.

A contraposição ao orgânico se dá pelas formas geométricas, que acomodam esse corpo numa moldura, sem, contudo, retirarem dele a graça auto-envolvente do amor à própria beleza e sensualidade refletida no espelho. Que mistérios a arte cria ao cruzar dados tão contrários como o da suavidade linear do belo corpo feminino e o construtivismo das formas abstratas e geométricas? Essa concha abstrato-geométrica que a acomoda tinge-se de cores fortes, revelando talvez o que se passa quando o desejo encontra seu reflexo no espelho.

Nu rosa com quadrado vermelho (2013)
acrílicas/ tela


Detalhe da obra

Detalhe da obra

Detalhe da obra